terça-feira, 1 de setembro de 2009

Quem pode atirar a primeira pedra?

A maioria dos brasileiros se declara cristão [1]. E o livro sagrado para os cristãos é a Bíblia, que contém uma interessante história: Alguns judeus queriam apredejar uma mulher pega em adulterio. A lei da época mandava apedrejar mulheres que fizessem isso. Jesus então surpreendeu dizendo: "Aquele dentre vós que estiver sem pecado atire a primeira pedra" . Então todos que estavam lá querendo apredejar a mulher foram embora [2]. Dai a origem da frase popular "quem nunca errou, atire a primeira pedra".

O que você sente quando lê, ouve ou apenas relembra essa passagem? Imagino que a maioria das pessoas sempre se coloca no lugar da pecadora recebendo a misericórdia divina. Proponto, neste texto, que nos coloquemos no lugar dos que estavam com as pedras nas mãos. Vamos juntos ter essa coragem.

A narrativa bíblica conta que depois que Jesus disse a celebre frase
"... atire a primeira pedra" nenhum dos acusadores sequer tentou refutar. Todos sairam, um a um. Não ficou nenhum. E sairam "sentindo-se acusados pela sua própria consciência" e não por medo de Jesus ou por simplesmente desistirem de querem apedrejar a mulher.

O primeiro ponto a analisar nos judeus é que queriam e iram apedrejar a mulher, não fosse a interferência de Jesus. Ora, se depois do que ele disse eles se retiraram por peso na consciência, por não pensaram que não tinham moral para apedrejá-la antes de levá-la a Cristo? Foi preciso alguém "cutucar a ferida" deles para cairem em si. Sejamos sinceros... quantos de nós não têm agido assim no cotidiano?

Quando vibramos ao ver um ladrão sendo linchado pela TV ou até pessoalmente, ou pior, quando participamos do linchamento, sempre gritando "toma isso, safado!", será que temos moral para isso? Você pode questionar
"mas eu não sou ladrão, portanto posso muito bem criticar e até bater em um". Pergunto a você: "Tem certeza que você não é um ladrão ou uma ladra?".

Calma, não estou acusando ninguém de ser batedor de carteira ou corrupto. Apenas quero expor alguns comportamentos que parecem normais ou até dignos de orgulho mas que na verdade são formas de roubo menos chocantes que roubar objetos mas tão ou até mais imorais quanto.

Seja sincero: na sua casa existe o famoso "gato" de energia? Nem aquele "só" para o ar condicionado, que consome mais? Se sua resposta for "sim", então você não tem o MENOR moral para chamar outros de ladrão, pois você
rouba DIARIAMENTE a empresa fornecedora de energia. Talvez você alegue que "a energia é cara e o preço injusto". Será que é mesmo? Com base no que você afirma isso?

Seja sincero: você usa meia passagem para transporte coletivo, cinemas e shows mas não é estudante? Se sua resposta for "sim", então você não tem o MENOR moral para chamar outros de ladrão, pois você
rouba SEMPRE QUE usufrui desse documento falso. Talvez você alegue que "o ingresso é caro e o preço injusto". Será que é mesmo? Com base no que você afirma isso?

Seja sincero: você assiste DVD pirata, ouve música que pegou de torrents e P2Ps na internet, joga jogo pirata de videogame (que mandou "destravar") ou usa programa de computador pirata? Se sua resposta for "sim" para alguma dessas perguntas, então você não tem o MENOR moral para chamar outros de ladrão, pois você
rouba SEMPRE QUE faz alguma dessas coisas. Talvez você alegue que "mas é caro e o preço injusto". Será que é mesmo? Com base no que você afirma isso?

Seja sincero: você já fez uma fotocópia (vulgo "xerox") de um livro ou periódico inteiro que não é gratuito? Se sua resposta for "sim", então você não tem o MENOR moral para chamar outros de ladrão, pois você
rouba SEMPRE QUE faz isso. Talvez você alegue que "mas livro e periódico é caro e o preço injusto". Será que é mesmo? Com base no que você afirma isso?

O curioso é que todos esse atos normalmente são divulgados por nós mesmos com o maior orgulho, fazendo pose de "espertos". Nós sim somos "sem vergonha". Mais "sem vergonha" que aqueles que roubam bolsas, celulares e relógios na rua, pois eles pelo menos negam até o fim.

"Mas o meu crime é menos pior e não faço tanto!", podem insitir alguns. Será? Há quantos meses o "gato" está lá? Quantas "carteiradas" você já deu em ônibus, cinema, teatro, etc? Quantos filmes piratas já assitiu? Quantas músicas pegas clandestinamente da internet já escutou? Quantos jogos piratas já jogou em videogame que mandou "destravar"? Há quanto tempo usa Windows, Word, Excel, Photoshop, etc sem pagar uma licença de uso sequer?

Por mais insjustas que sejam as tarifas de energia, preços dos ingreços, dos DVDs, dos jogos de videogame, das licenças de programas, etc., é "fazer justiça" deixar de pagar por eles? Pensar que deixar de pagar por eles é um ato de "justiça com a próprias" mãos é uma tremenda injustiça, isso sim!

Reparem ainda num fato interessante: quem tem "gato" de energia, usa muito mais energia do que quem não tem. Afinal não paga (ou paga uma tarifa mínima). Então deixam o ar condicionado, a TV, o som e tudo mais ligados o tempo todo. Enfim, "fazem a festa" com o que simplesmente
roubam todo dia. O mesmo ocorre com os outros itens citados. Por exemplo, quem assiste DVD pirata compra muitos, pois são baratos, e assim por diante.

Alguns ainda podem contestar que atos como dar "carteiradas" ou "bater xerox" de livros não são roubos. Pergunto: Imaginem se todos resolvessem fazer essas coisas. Cinemas iriam a falência, pouquissimos ainda iriam escrever livros, etc. Enfim, toda uma cadeira produtiva em torno dessas coisas iria ao colapso financeiro. Por quê? Porque foram roubados! E mais: se uma produção, seja um filme, um livro ou uma música, foi feita para ser vendida e você consegue uma cópia sem pagar ao autor (pirateada), você não pagou a quem deveria ter pago. E quem pega sem pagar nem pedir, o que é?

Acha preços de certas coisas injustos? Denuncie! Pechinche! Procure promoções! Economize! Mas não roube! Não trapaceire!

Espero que, após essa reflexão, tanto eu como os que leram este texto tenhamos a dignidade de fazer como os judeus: jogemos fora a pedra de nossa hipocrisia que gostamos de jogar nos outros
"sentindo-se acusados pela sua própria consciência" .


1 - Censo 2000 IBGE: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2000/populacao/religiao_Censo2000.pdf

2 - Bíblia Sagrada, Evangelho segundo João 8,1-9

2 comentários:

Anônimo disse...

Acho que com um post desse, vc deve ser o primeiro a jogar essa pedra da hipocrisia.

José Yoshiriro Ajisaka Ramos disse...

Amigo, acho que você não leu o final do post onde eu escrevi:

Espero que, após essa reflexão, *tanto eu* como os que leram este texto tenhamos a dignidade de fazer como os judeus: *jogemos* fora a pedra de *nossa hipocrisia* que gostamos de jogar nos outros "sentindo-se acusados pela sua própria consciência" .

Ou seja, tudo que escrevi vale para mim tanto quanto para os outros. Em nenhum momento do texto eu afirmo que não faça nada daquilo que critico. Ao contrário, convido a mim mesmo para uma reflexão.