Universidade do Futuro: Tecnologia x Professor
É comum, hoje em dia, principalmente entre os profissionais das áreas tecnológicas, discutir sobre como a tecnologia vai substituir o ser humano nessa ou naquela função. E uma das funções que estão sob tal discussão é a do professor nas universidades. Estaria o docente com os dias contados na universidade do futuro?
A universidade é um lugar para o qual as pessoas vão em busca de conhecimento. Independentemente do tipo de universidade, o objetivo é sempre transmitir aos seus alunos os conhecimentos que eles almejavam ao ingressar nela. Para ser eficaz, a universidade deve saber o que fazer bem e que ferramentas usar.
O que fazer bem? Expor seus alunos a experiências, pesquisas e práticas relacionadas aos conteúdos programáticos das disciplinas. É infrutífero que a teoria seja dissecada para, só então (às vezes, nunca), partir para a prática.
Que ferramentas usar? A tecnologia, cada vez mais surpreendente, tem se tornado uma grande aliada para ajudar na missão de transmitir conhecimento. Sem dúvida, seu uso qualifica mais uma instituição de ensino. Todavia, a ferramenta mais importante de uma universidade chama-se PROFESSOR.
Bem escreveu o jornalista e educador Gilberto Dimenstein: “É um equivoco imaginar que a universidade do futuro será aquela que melhor lidar com as máquinas. Bobagem. A boa universidade será aquela que submeter seus alunos à maior quantidade possível de experimentações e pesquisas, nas quais o professor desempenhe o papel facilitador” [1].
Tomás de Aquino, grande teólogo e educador do século XIII, que é admirado e estudado até hoje, desenvolveu, em obras como sua suma teológica, uma teoria sobre o conhecimento que "convoca" a vontade e a iniciativa de cada um na direção do aperfeiçoamento, a qual legou à educação, sobretudo, a idéia de autodisciplina e de auto-aprendizado. Somente o professor é capaz de guiar o aluno sob tal filosofia. Por quê? Bem escreveu Tomás de Aquino: "É evidente que o homem não é só a alma, mas um composto de alma e de corpo" (I, 75, 4). Máquina nenhuma tem e nunca terá alma.
A informação se torna conhecimento quando é selecionada, analisada e assimilada. E é o bom professor, o único capaz de vencer as limitações de um frio computador para saber, com calor humano e sensibilidade, o que fazer para ajudar o aluno a selecionar, analisar e assimilar as informações, adquirindo, assim, conhecimento.
Os professores são um “divisor de águas” entre uma boa e uma má universidade, muito mais que a melhor das tecnologias, pois um ótimo docente (aquele que ama ensinar e o faz muito bem) é capaz de fazer com que os alunos nem percebam que as paredes são de compensado velho ou que o teto da sala sejam galhos de uma árvore, na qual o velho quadro negro está pendurado. O mau docente (aquele que não sabe e/ou não gosta de ensinar), minimiza até mesmo o valor de um laboratório com computadores de última geração.
Ser professor é uma vocação que afeta a totalidade da vida. Não é por acaso que ninguém diz: "Bom dia engenheiro", "Bom dia, encanador" etc., mas todos dizem: "Bom dia, professor".
Podemos então dizer, sem medo de errar, que na universidade do futuro, a tecnologia não será a substituta do professor, será apenas uma coadjuvante na sua missão de multiplicador do conhecimento.
1 – Gilberto Dimenstein - “O professor do futuro”. Publicado na Folha de São Paulo, em 05/08/2001.
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